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Escolhas Autênticas: Como a Filosofia de Heidegger Pode Mudar Sua Vida Profissional

Como médico psiquiatra e pesquisador na área da Fenomenologia, nutro uma profunda paixão por temas relacionados ao tempo e à temporalidade. Acredito genuinamente que mergulhar nessas questões pode revolucionar a forma como nos concebemos e a maneira como interagimos com o mundo. Esse interesse levou-me a explorar a filosofia de Martin Heidegger, cujas ideias sobre ansiedade, finitude e busca por uma vida autêntica me parecem oferecer insights valiosos sobre a saúde mental no ambiente de trabalho.

Heidegger, em sua obra "Ser e Tempo", apresenta uma análise profunda da condição humana, centrando-se na experiência do ser que, para além de um indivíduo isolado, concebe-se na sua relação com o mundo que o rodeia. Nesse sentido, o filósofo aponta que a ansiedade, para além de um sintoma desconfortável, constitui um sentimento fundamental que contém em si a possibilidade de revelar a verdade sobre nossa existência: somos seres finitos, lançados em um mundo de possibilidades limitadas, embora tenhamos a tendência de viver como se possuíssemos possibilidades infinitas, deixando o tema da finitude sempre para depois.

No ambiente de trabalho, a ansiedade é um sentimento comum, muitas vezes resultante de pressões, estresse e expectativas. Convém apontar, todavia, que, longe de ser meramente negativo, esse sentimento pode atuar como catalisador de uma reflexão mais profunda sobre nossa existência. Assim, o trabalhador ansioso, enfrentando a pressão diária, pode encontrar nesse desconforto um convite para questionar a autenticidade de suas escolhas. Ao invés de perpetuar um ciclo de escolhas inautênticas, motivadas pela busca de segurança ou pelo medo da finitude, Heidegger nos convida então a reconhecer nossa finitude e a das pessoas que amamos como um meio de valorizar aquilo que é verdadeiramente importante. Cabe então perguntar: - Essa escolha que estou tomando se baseia no que realmente importa na minha vida, ou a estou tomando baseado apenas no que os outros querem que eu faça?


A partir dessa perspectiva, a ansiedade no trabalho não precisa ser uma força destrutiva, podendo ser transformada em um ponto de partida para uma vida mais autêntica, e não uma cópia da vida dos outros, ou da vida que a sociedade nos impõe – aquela vida artificial à qual nos expomos todos os dias nas redes sociais. Ao confrontar a ansiedade e utilizar sua energia para refletir sobre nossas vidas, podemos então começar a fazer escolhas que refletem nossos valores mais profundos e nosso reconhecimento da finitude. Isso implica valorizar o tempo que temos, as relações que cultivamos e as atividades que nos preenchem, em detrimento de metas inautênticas que nos desviam do que realmente importa. Assim, perante o sentimento de ansiedade, convém se questionar: - Espera aí, eu estou sofrendo tanto por causa desse problema... Mas sou um ser que pode deixar de existir a qualquer momento, deixando para sempre as coisas que realmente importam na minha vida. Assim, por que raio de motivo estou sofrendo por isso?

Penso que o estudo do tempo e da temporalidade, particularmente a partir da filosofia de Heidegger, pode oferecer uma poderosa ferramenta para a saúde mental no ambiente de trabalho. Ele nos encoraja a enfrentar a ansiedade não como um inimigo, mas como um aliado que nos desafia a viver de maneira mais autêntica e significativa, desde que optemos por enfrentar o sentimento ansioso, e não dele se afastar com mais escolhas inautênticas. Ao abraçar a finitude como uma condição fundamental da existência, podemos ressignificar a ansiedade gerada no trabalho e usá-la como um atalho para uma filosofia de vida que considera nossa temporalidade finita, desenvolvendo a capacidade de escolhermos com autenticidade. Ao fazer isso, não apenas melhoramos nossa saúde mental, mas também enriquecemos nossa experiência de vida, tanto no ambiente de trabalho quanto além dele.

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