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A Eterna Insatisfação

Modelos com a pele perfeita, plastificada; barrigas femininas "negativas"; mulheres e homens tão musculosos que causariam inveja a deusas e deuses gregos retratados em estátuas milenares. Essas imagens são lugares-comuns nos programas de televisão, nos outdoors, nas propagandas de revista, nas mídias sociais, inundando-nos diariamente. Sem que percebamos, muito contribuem para a construção do padrão de beleza que carregamos conosco, influenciando nossas escolhas e, frequentemente, causando-nos insatisfação e sofrimento. Insatisfação, quando comparamos nossos próprios corpos, reais, com essas imagens artificiais. Sofrimento, quando buscamos incessantemente alcançar tão sonhado corpo num périplo impossível.


A insatisfação com a forma física associada à perseveração de alcançar o padrão de beleza ideal pode, inclusive, levar a distúrbio grave e potencialmente fatal cujo tratamento se torna cada vez mais difícil com o progredir do tempo. Exemplos incluem quadros de anorexia nervosa e vigorexia, dois extremos entre as dismorfias corporais.


Na anorexia nervosa, o indivíduo possui uma imagem deturpada de si, sentindo-se constantemente acima do peso, por mais magro que esteja. Por causa disso, reduz a quantidade de alimentos ingeridos a níveis mínimos, pode fazer uso de medicações diuréticas e laxativas, e frequentemente se submete a rotinas extremamente extenuantes de exercícios físicos.


Na vigorexia, por outro lado, o indivíduo tende a se perceber sempre mais magro e menos musculoso do que realmente é. Consequentemente, submete-se a dietas extremas, a exercícios intensos e, invariavelmente, a substâncias anabolizantes, por vezes adquiridas de fontes não confiáveis, utilizadas em altíssimas doses, frequentemente sem acompanhamento médico e por tempo prolongado. A exposição a esses compostos androgênicos pode causar profundos danos ao organismo, estabelecer transtorno de uso e resultar em alterações do humor, podendo levar inclusive a comportamento agressivo e a episódios depressivos, entre outros transtornos psiquiátricos.





É difícil determinar uma única causa para esses distúrbios. Interrogamos até que ponto as exigências de um mundo consumista são maiores que as exigências e fantasias internas dos indivíduos que desenvolvem esses transtornos. Independente da causa, no entanto, é claro que essas doenças são graves e causam muito sofrimento, merecendo atenção redobrada na medida em que são frequentemente subdiagnosticadas.


É importante ressaltar, no entanto, que anorexia e vigorexia possuem tratamento. Trata-se de terapêutica prolongada que depende fundamentalmente de uma mudança interna no indivíduo, no sentido de que volte a enxergar o mundo como realmente é, com verdade, reduzindo suas exigências e deixando de lado a busca incessante pela perfeição, sempre associada à eterna insatisfação. Dessarte, além de medicações, muitas vezes indicadas para tratar comorbidades, muito mais importante será a psicoterapia.


Quando nos olhamos no espelho, o que vemos nos satisfaz? Se não totalmente, por quê? Quanto dessa insatisfação é de fato nossa? Se não houvesse a necessidade de aprovação dos outros, continuaríamos insatisfeitos? As pessoas envelhecem, é claro. É normal que, com o tempo, nosso percentual de gordura aumente e a pele torne-se um pouco mais flácida. É natural que os cabelos fiquem brancos com o passar dos anos, o que pode, inclusive, conceder-nos um charme adicional. Além disso, rugas certamente aparecerão, mais cedo ou mais tarde, embora isso possa ser retardado com o uso diário de um bom protetor solar (não nos esqueçamos disso). Qual é o nosso padrão de beleza? O que o define? Em tempos de Instagram, Photoshop e filtros dos mais diversos, é fundamental estarmos atentos para não nos afastarmos da beleza real que nos rodeia, deixando de lado o post artificialmente alterado, feito para brilhar aos nossos olhos como algo a ser almejado, invejado e adquirido.

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