"Estou feliz, muito feliz, e basta uma coisinha de nada para me tirar do sério. Daí meu mundo perde o sentido. Na verdade, acho que nunca fui feliz na minha vida. Não controlo minhas emoções... Quando me apaixono, me apaixono demais; quando brigo, perco o controle da raiva. Preciso de ajuda!"
Quadros como o descrito acima são muito comuns, porém uma minoria das pessoas com esse tipo de alteração procura ajuda devido a essas dificuldades nos relacionamentos interpessoais. Consequentemente, acabam por prolongar o sofrimento associado. Além disso, frequentemente, dado o desconhecimento dessa condição mesmo por profissionais da saúde, podem recebem diagnósticos incertos e tratamentos incompletos, não resolutivos. Não é incomum que sejam tratadas como pessoas unicamente deprimidas ou bipolares, recebendo tratamentos exclusivamente medicamentosos, por vezes pouco efetivos.
Existe um tipo de alteração do comportamento humano em Psiquiatria ao qual damos o nome de "Transtorno Borderline" ou "Transtorno Emocionalmente Instável". Como o próprio nome diz, a alteração é caracterizada por um quadro de instabilidade emocional importante. É comum a pessoa estar bem num determinado momento e, por pequenas coisas, perder a razão.
Pessoas com Transtorno Borderline também costumam ter um histórico de relacionamentos amorosos recheado de conflitos. E se não tiveram problemas durante a relação, frequentemente apresentam muitos problemas quando tais relacionamentos terminam. Nesse sentido, sofrem demais, sofrimento que ultrapassa as barreiras esperadas ao sermos, porventura, abandonados.
Além disso, é comum que se queixem de uma sensação de insatisfação com a vida que as acompanha desde sempre, como se a felicidade não tivesse espaço em suas existências. Também podem referir dificuldade de controlar as emoções, como a raiva, como se apenas um riscar de fósforo fosse o suficiente para ocasionar uma explosão. Quando se irritam, então, podem se descontrolar e se agredirem ou agredirem os outros. Quebrar objetos em momentos de raiva também pode ser um sintoma.
A angústia de indivíduos com esse problema é muito grande. Em especial, nos momentos de intensa ansiedade e tristeza, podem chegar a se ferir, sendo comuns cortes nos braços e outras formas de autoagressão. Não necessariamente desejam a morte quando fazem isso. É comum referirem que ao causarem dor ao corpo físico, sentem melhora da angústia e da ansiedade psíquicas.
Por causa desses vários sintomas, aqueles com Transtorno Borderline acabam apresentando sérios problemas quando o assunto é se relacionar com outras pessoas, o que frequentemente leva ao afastamento de entes queridos. Obviamente, isso amplia ainda mais o sofrimento associado.
Uma boa notícia, no entanto, é que esse transtorno tem tratamento. O ponto negativo é que poucos procuram ajuda devido às características mencionadas. A pessoa pode ser considerada "descontrolada", uma "bomba-relógio", como se a condição fosse fixa e imutável, quando na verdade possui diagnóstico e tratamento, sendo possível a mudança.
Não se trata de um fácil tratamento, no entanto, e esse depende sobretudo da pessoa que sofre do problema sentir o quanto seus sintomas a atrapalham e desejar a mudança. Além de medicações que tendem a controlar a impulsividade e os sintomas depressivos, como estabilizadores do humor, antidepressivos e ansiolíticos, o tratamento envolve psicoterapia de longa duração, o que pode significar alguns anos de tratamento. Nesses casos, quando a pessoa se engaja e segue as orientações adequadamente, a maioria dos indivíduos se encontra livre desse diagnóstico ao fim da terapêutica.
Reforçando, o Transtorno Borderline causa sofrimento, porém tem tratamento. Na dúvida, procure um profissional da área de saúde mental. Nesses casos, a informação pode ser o primeiro melhor remédio.
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