Um livro deixado no banco do parque, a chave dentro do carro, o nome daquela pessoa que se acabou de conhecer... O esquecimento é mais comum do que parece. E não necessariamente algo patológico. Há um limite, no entanto, a partir do qual déficits de memória podem representar alteração do funcionamento cerebral, exigindo uma avaliação mais criteriosa.
O esquecimento deve ser considerado um sintoma quando se torna frequente o suficiente para prejudicar a funcionalidade do indivíduo, comprometendo sua vida pessoal e/ou seu trabalho. Esquecer a porta de casa aberta, uma vez ao ano, em um dia de muita pressa, pode ser considerado normal. Porém, uma cozinheira que começa a esquecer o fogo aceso diariamente poderá ter problemas na sua vida laboral, sugerindo que algo deva estar errado.
Esquecimentos frequentes e que causam prejuízos podem indicar a ocorrência de um quadro de "demência", termo anteriormente utilizado para definir síndromes especialmente caracterizadas por alterações no domínio da memória. Os Transtornos Neurocognitivos (TNC), por outro lado, surgem para ampliar o conceito, uma vez que síndromes demenciais frequentemente estão associadas a alterações em outros domínios da cognição, como a atenção, a orientação espacial e temporal, o comportamento social. É comum que o paciente comece a se esquecer de acontecimentos recentes, mantendo lembranças mais remotas, quadro que se acompanha de comprometimento progressivo da capacidade de atenção, da realização de tarefas cotidianas e do comportamento social.
São várias as causas dos TNC, sendo a principal delas a Doença de Alzheimer, caracterizada por uma alteração degenerativa dos neurônios que compromete seu funcionamento. No entanto, existem outras causas, inclusive evitáveis, de demência, como a doença aterosclerótica, responsável por um tipo de Transtorno Neurocognitivo denominado Demência Vascular, em que os vasos sanguíneos que levam nutrientes ao cérebro sofrem lesões e acabam se obstruindo, o que por sua vez resulta na destruição do tecido cerebral.
A evolução da doença depende fundamentalmente da causa do distúrbio. Há quadros que evoluem lenta e progressivamente com o passar de anos, enquanto outros se iniciam mais abruptamente, com piora acentuada em poucos meses. Outros podem apresentar evolução insidiosa, com momentos de intensificação episódica dos sintomas.
Há tratamento, porém grande parte das síndromes demenciais ainda não possui cura. No entanto, com terapias medicamentosas e ambientais adequadas, é possível a manutenção da qualidade de vida por longo tempo, o que depende também do diagnóstico precoce e do seguimento regular.
Ocorrendo sintomas sugestivos de TNC, é fundamental não tardar a procurar ajuda médica. É importante reforçar que há causas de problemas de memória e comportamento que são tratáveis e inclusive totalmente curáveis (como doenças infecciosas e déficits de vitaminas), e a presença ou não de sequelas, nesses casos, depende da introdução precoce do tratamento.
Na dúvida, o melhor a fazer é procurar uma avaliação médica especializada. O paciente deverá ser ouvido, examinado, e alguns testes específicos para avaliação da cognição serão aplicados. Eventuais exames laboratoriais e de imagem poderão ainda ser solicitados. O exame cuidadoso e criterioso levará ao diagnóstico correto, resultando na instituição de terapêutica adequada e nos melhores resultados.
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