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A Hora de Buscar Ajuda

Apesar da enorme facilidade de se obter informação, ainda hoje é comum o surgimento de dúvidas e receios imobilizantes ao se procurar ajuda psicológica e psiquiátrica, quando nos deparamos com uma dor psíquica.


Ir ao encontro de um dermatologista para resolver uma lesão de pele ou procurar um ortopedista devido a uma fratura são condutas comuns do dia a dia as quais não costumam despertar medos e ansiedades. Por outro lado, procurar um médico psiquiatra devido a uma dor psíquica (a qual pode ser tão intensa quanto uma grave dor ortopédica) frequentemente leva a questionamentos internos, por vezes postergando a busca de ajuda.


Se as lesões são visíveis e objetivamente localizáveis no corpo físico do indivíduo, há pouco, senão nenhum, preconceito por parte da sociedade. Na Psiquiatria, campo da medicina que trata de lesões frequentemente invisíveis ao olho nu, o contexto costuma ser, no entanto, bem diferente.


O sofrimento psíquico pode não ser entendido como uma forma legítima de sofrimento se partimos do pressuposto de que é sempre possível, racionalmente, controlar a mente e todas as funções cognitivas e afetivas de nossos cérebros. No entanto, perante os conhecimentos acumulados em anos de estudos científicos sérios, trata-se, esse, de um pressuposto completamente falso.


Comparativamente, isso corresponderia à ideia absurda de que se uma pessoa se esforçasse muito e adotasse constantemente pensamentos positivos, uma fratura deixaria de existir de um dia para o outro, ou um quadro de arritmia cardíaca resolver-se-ia facilmente, sem qualquer outro tipo de intervenção, bastando para isso, "levar a vida com otimismo”.



É Hora de Buscar Ajuda


Um fator que certamente atua como causa desse preconceito é o desconhecimento, muitas vezes atrasando a busca por atendimento médico em casos de grande sofrimento psíquico, o que pode levar ao aumento da gravidade dos sintomas, ao comprometimento da funcionalidade do indivíduo e, eventualmente, a pensamentos de morte e ideação suicida.


Não, definitivamente não são loucos os que buscam atendimento psiquiátrico. A Psiquiatria é uma especialidade médica que estuda o comportamento humano, as doenças que podem acometer a mente e as respectivas formas de terapia, bem estabelecidas ou inovadoras, sempre objetivando proporcionar os maiores níveis possíveis de saúde mental. Nesse sentido, pessoas com ansiedade em excesso, dificuldades de convívio devido a traços desadaptativos de personalidade, dores psíquicas intensas perante estressores, dificuldades de concentração e memória que prejudiquem a funcionalidade, dentre tantos outros problemas, podem se beneficiar (e frequentemente o fazem) de um tratamento médico psiquiátrico e psicológico.


Um ponto é importante frisar. Quanto mais se demora para iniciar o tratamento, mais o transtorno se agrava e mais difícil se torna obter melhora completa. Portanto, o preconceito contra a busca por ajuda psiquiátrica e o desconhecimento associado ao diagnóstico e tratamento das doenças mentais resultam em prolongamento e intensificação do sofrimento de milhares de pessoas, todos os dias, muitas vezes ao nosso redor e, eventualmente, de nós mesmos.


O desconhecimento quanto às medicações psiquiátricas também contribui para a manutenção desse preconceito. A ideia de que todas as medicações psiquiátricas são “calmantes” com efeitos sedativos intensos, de que deixam as pessoas trêmulas e desorientadas, “dormindo o dia inteiro”, “robôs desligados do mundo”, representa uma visão anacrônica da realidade. Em tempos hodiernos, a maioria das medicações psiquiátricas utilizadas possuem mecanismo de ação moderno, atuando de forma seletiva em áreas específicas do cérebro, o que resulta em melhor perfil de efeitos colaterais e não indução de dependência. Ademais, uma medicação só deverá ser prescrita quando os benefícios de sua introdução superarem os riscos, princípio que guia médicos de todas as especialidades.


A ideia de que o tratamento psiquiátrico se baseia apenas em medicações é um conceito também ultrapassado. Está cada vez mais provada a importância de tratamentos psicoterápicos, às vezes associados aos medicamentos, por vezes em monoterapia, para o tratamento das mais variadas alterações do comportamento humano, com excelentes resultados descritos.





A mensagem é simples e clara. Na ocorrência de uma alteração de comportamento que esteja causando sofrimento e prejuízos para o indivíduo (na escola, no trabalho, nos relacionamentos interpessoais) ou para as pessoas de seu convívio, uma avaliação por um especialista estará indicada. Isso não significa que uma medicação será necessariamente prescrita ou mesmo que longos anos de psicoterapia serão necessários. A busca por ajuda significa, isto sim, que se ampliarão as chances de recuperação da saúde mental do indivíduo, como um todo.

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